‘Tempestade perfeita’ causa filas e caos em aeroportos em todo o mundo

Retomada da demanda para o verão nos EUA e na Europa e falta de mão-de-obra depois de dois anos de pandemia levam a atrasos em voos e confusão nos terminais

Passageiros aguardam em filas extensas e confusas no aeroporto de Heathrow, em Londres, no início de junho
Por Anurag Kotoky - Angus Whitley - Siddharth Philip
18 de junio, 2022 | 05:32 PM

Bloomberg — Executivos de companhias aéreas e aeroportos ao redor do mundo passaram os últimos dois anos tentando convencer as pessoas de que é seguro voar mesmo com a pandemia, provocada por um dos vírus mais transmissíveis de que se tem notícia - já são cerca de 540 milhões de casos no mundo. Mal sabiam como ficariam sobrecarregados quando a demanda por viagens voltasse com força em diferentes regiões.

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De Sidney, na Austrália, onde os passageiros esperam horas para conseguir fazer o check-in, às cenas caóticas na Índia e na Europa, onde a alemã Lufthansa está cancelando centenas de voos, a indústria da aviação civil não tem funcionários suficientes para manter as operações em ordem.

À medida que os países reabriram as fronteiras e as restrições da Covid diminuíram, bem como a exigência de testes, as viagens voltaram com tanta força que resultaram em uma crise de mão-de-obra sem precedentes. E contratar para dar conta da demanda, o que seria a medida esperada, não é uma alternativa tão considerada assim, seja porque faltam trabalhadores disponíveis, seja porque há muitas incertezas sobre a sustentabilidade dos níveis atuais de procura por viagens com a piora da economia.

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A necessidade de recuperar o atraso ficou evidente durante uma visita ao Aeroporto de Sidney há poucos dias, antes do início de um fim de semana prolongado. Filas para verificação dos passageiros em questões de segurança dos voos da Virgin Australia e da Jetstar davam as voltas pelas portas. Há um efeito dominó provocado pela falta de funcionários ligados aos voos em si. Um barista disse que fez pelo menos 300 cafés até o meio-dia, 50% a mais do que o normal. As pessoas esperaram 20 minutos no McDonald’s.

A situação foi agravada pelas milhares de demissões com a queda na demanda provocada pela pandemia, de pilotos à tripulação de cabine e os trabalhadores de assistência em terra. Muitos dos profissionais não estão mais dispostos a voltar a trabalhar no segmento, mas, mesmo que estivessem, aumentar os quadros no ritmo necessário é um risco para companhias aéreas e aeroportos, com a inflação em alta e as pressões econômicas colocando um ponto de interrogação sobre a sustentabilidade da demanda atual.

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“Todos os aeroportos e as companhias aéreas estão com poucos funcionários no momento”, disse Geoff Culbert, CEO do aeroporto de Sidney, onde quase metade da força de trabalho de 33.000 pessoas perdeu o emprego durante a pandemia de Covid. O aeroporto está tentando recompor o quadro pessoal, mas “não somos um lugar tão atraente para trabalhar como antes”, disse ele.

Muitos antigos funcionários do setor de aviação mudaram para outras carreiras consideradas menos instáveis e agora reconquistá-los está sendo difícil. O Aeroporto de Changi, em Singapura, considerado um dos melhores do mundo por diferentes rankings globais, está à procura de 6.600 trabalhadores, que vão desde seguranças até funcionários de catering. Uma empresa, a Certis Group, está oferecendo um bônus de assinatura equivalente a cerca de US$ 18.000, cerca de 10 vezes o salário básico mensal, para um papel de policial auxiliar que ajudaria no tráfego e no controle de multidões nos saguões.

A grave escassez de funcionários em aeroportos e nas companhias aéreas, que certamente será um tópico de discussão na 78ª reunião geral anual da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês), que começa em Doha neste domingo (19), levou a atrasos, cancelamentos e extrema frustração para companhias aéreas e viajantes em todas as regiões. A situação ficou tão ruim que o CEO da Ryanair, Michael O’Leary, pediu ajuda a militares britânicos e à australiana Qantas Airways.

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“A falta de pessoal significa que estamos lutando para operar nosso cronograma planejado com a qualidade e a pontualidade que prometemos”, disse Jens Ritter, CEO da Lufthansa, em um post no LinkedIn na semana passada, pedindo desculpas pelos voos cancelados em Munique e Frankfurt.

“Muitas pessoas deixaram o setor de aviação durante a pandemia e encontraram trabalho em outros lugares. Agora, nossos parceiros de sistema, como aeroportos e fornecedores, estão enfrentando uma escassez aguda de funcionários e estão lutando para contratar novos funcionários.”

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As autorizações de segurança exigidas para o trabalho no aeroporto também dificultam as contratações. A British Airways tem cerca de 3.000 potenciais trabalhadores em fase de recrutamento, mas não consegue avançar no processo por causa da checagem de antecedentes, enquanto na EasyJet há 140 tripulantes treinados e prontos, mas que ainda não têm as autorizações necessárias.

Tudo isso significa que pode levar até 12 meses para que a escassez diminua, de acordo com Izham Ismail, CEO da Malaysian Airlines. “Vemos isso predominantemente e muito claramente na Europa. Vemos isso na América do Norte. Vemos isso na Malásia”, disse Izham em um fórum em Cingapura no início da semana. “Acredito que as partes interessadas e os formuladores de políticas precisam trabalhar juntos.”

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A forma como as companhias aéreas e os aeroportos estão gerenciando varia de região para região. Na Ásia, os aeroportos têm sido mais proativos quando se trata de evitar colapsos, às vezes negando permissão às companhias aéreas para adicionar novos voos ou pedindo-lhes para reagendar, disse Brendan Sobie, fundador da consultoria Sobie Aviation, com sede em Cingapura. Outras partes do mundo estão apenas esperando por uma pausa enquanto a demanda até começa a diminuir.

“Nenhum mercado está imune aos problemas de mão-de-obra, o que significa que qualquer janela para resolver esse desafio pode ser vista como benéfica”, disse Sobie.

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Por trás do esforço para contratar mais funcionários, no entanto, há uma preocupação persistente com o fato de que a demanda pode não durar com o mundo ameaçado por uma recessão.

A concretização desse cenário de contração da atividade levaria as companhias aéreas a enfrentar subitamente, em pouco meses, um problema de excesso de capacidade - tanto em termos de frota quanto de mão-de-obra - se trouxerem de volta todos os seus jatos ociosos e contratarem agressivamente.

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As tarifas aéreas já são muito mais altas do que os níveis de conforto financeiro da maioria dos viajantes, a inflação em todos os lugares está elevando os custos de vida e há a possibilidade definitiva de que as pessoas prefiram ficar em casa ou passar férias em seus países quando a crise apertar.

“Após os meses de pico de viagens do Hemisfério Norte, de junho a agosto, a combinação de aceleração do retorno à escola e ao trabalho e o declínio sazonal normal na demanda forçará as transportadoras aéreas a relaxar as tarifas de lazer e negócios, ou correrão o risco de uma maior destruição da demanda”, disse Robert Mann, chefe da empresa de consultoria de aviação R.W. Man & Co.

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“As margens das companhias aéreas vão se deteriorar”, disse ele, o que significa que decisões difíceis terão que ser tomadas sobre “quanta capacidade pode ser transportada de forma realista, especialmente no meio da semana, quando as viagens de negócios historicamente predominam”.

-- Com Danny Lee, Kyunghee Park e Adrija Chatterjee.

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